Criar propósito real dentro de uma empresa pode levar ao aumento da produtividade, diz Rebecca Henderson
A sustentabilidade pode ser fonte de novas estratégias, de inovação e uma forma de trazer propósito aos colaboradores e fornecedores, afirmou Rebecca Henderson, consultora de sustentabilidade e professora da Harvard University e Harvard Business School. Segundo ela, cerca de 80% das pessoas pensam que as empresas devem ter papel central na sustentabilidade e na busca de soluções aos problemas ambientais que o mundo vive, e as empresas podem se aproveitar disso como um modelo de negócios, não apenas como uma “cartilha de intenções bonitas”.
“Existem empresas no mundo todo que estão utilizando a solução para esses problemas em sua estratégia”, afirmou Rebecca, durante o HSM ExpoManagement 2016, que acontece nesta terça-feira (08/11) em São Paulo.
A sustentabilidade, segundo ela, pode ser uma forma de dar propósito à empresa, o que aumenta a produtividade dos colaboradores e contribui com a inovação.
Nas palavras de Rebecca, o propósito é a “noção de que fazemos parte de algo maior do que nós mesmos”. De acordo com ela, “as empresas que conseguem fazer isso, adotar um propósito com foco moral de forma autêntica, conseguem lançar produtos melhores, constroem marcas mais fortes, e atraem pessoas que acreditam que a sua empresa pode fazer a diferença, e que querem fazer parte disso”. Rebecca defende que quando uma pessoa consegue que seus colaboradores sintam que estão contribuindo para um objetivo maior, a forma como as pessoas se relacionam com a empresa muda.
“É um grande benefício ter pessoas dispostas a trabalhar naquela empresa, alinhadas com os valores da empresa”, afirmou Rebecca. Segundo ela, em uma companhia, é possível encontrar funcionários hostis, que só cumprem o mínimo exigido, e apenas alguns que estão realmente empolgados com o trabalho. “Normalmente, a maioria só cumpre o regulamento, mas se você tiver uma organização com propósito, consegue atrair pessoas comprometidas com o trabalho até a alma”, afirmou.
Ela conta que economistas estudam há mais de 20 anos porque empresas com os mesmos recursos têm resultados tão diferentes: uma é mais produtiva do que outra. “São as empresas que conseguem adotar práticas de auto desempenho de trabalho e implementar políticas de longo prazo, transparência, que se destacam. Eu acho que isso tem a ver com o propósito”, disse Rebecca.
Outro benefício de engajar os colaboradores tem relação direta com a inovação, ressaltou a especialista. “As empresas que cresceram foram as que tinham o compromisso emocional para trabalhar diferente, além da ideia de que é preciso bater meta”, afirmou. Para se ter inovação, é preciso ter uma motivação, algo que faça sentido para o funcionário, disse a professora de Harvard. “Precisa ter uma motivação intrínseca, um sentido”, falou. Mas para isso, não se pode negar as mudanças.
“Por que inovar é tão difícil? Porque todo mundo nega a mudança. A Kodak, por muitos anos, foi a empresa mais produtiva de seu segmento, mas o que é a Kodak hoje?”, questionou. No entanto, ela afirmou que apenas o propósito não basta, “é preciso ter clareza e foco, aí sim é possível obter resultado, ter objetivos compartilhados”.
Outro ponto importante no investimento em sustentabilidade é para as empresas que dependem dos recursos naturais para produzir. “Uma empresa de cosméticos, por exemplo, precisa da biodiversidade para desenvolver suas fragrâncias, e esse é um risco importante a ser levado em consideração na estratégia de negócios”, disse.
“A sustentabilidade pode ser uma forma de fortalecer a marca”, afirmou. No entanto, a professora de Harvard afirmou que o quanto os consumidores estão dispostos a pagar mais caro por um produto sustentável depende muito do setor em que a empresa atua. Um exemplo de sucesso citado por ela foi a Unilever, que segue o discurso da sustentabilidade e cresce 30% ao ano – acima de suas principais concorrentes.
“Por muito tempo pensamos que os recursos naturais eram infinitos, mas agora, com sete bilhões de habitantes no mundo, começamos a perceber que não é bem assim”, afirmou Rebecca Henderson. “Estamos no meio da maior experiência da humanidade, mas existe o grande risco de que o clima se desestabilize, podemos ter vários desastres naturais”.